As Cicratrizes são boas...

A minha volta ao Brasil me fez entender muita coisa.
Sinto-me uma grande sortuda. Uma mulher que tem a oportunidade de olhar seu passado, presente e decidir o futuro.
Longe de uma nova vida, e próxima da antiga... Tenho nas mãos o meu futuro e posso dizer o que foi ou não bom para mim.

Esse também é um momento filosófico e de ruptura em minha vida.. onde vejo os meninos crescerem, acompanhar de longe a vida das pessoas, reconsiderar os meus erros e de minha família... e surge uma nova descoberta: eu me sinto quase pronta para tirar de meu ventre uma árvore minha.

Hoje depois do churrasco, olhei uma de minhas sobrinhas com os lábios de sangue depois de uma queda num parquinho.
Eu lembrei daquela latinha de leite-moça que entrou na minha boca e me fez levar vários pontos.

No colo de Bette, a minha pequena perguntava: eu vou ficar boa?
Eu tive orgulho de ela perguntar isso para mim, e esperar que eu desse uma resposta.

Olhei para ela, e vi algumas outras quedas e arranhões em seu corpo. E achei que agora era hora de perguntar a ela o que havia sido aquela marca no joelho, ou a cicatriz na sua orelha...

Ela quase sem choro me disse: caí da escada aqui, subi numa árvore e quase fiquei com minha orelha num galho...rs. Pensei: que menina Danada e Porreta! Vai dar trabalho ao meu irmão..kkk.

Rimos as duas, e já não havia choro.
A minha roupa tinha sangue, assim como a boquinha dela.

Eu disse a ela que as experiências mais duras estavam marcadas nela. E agora, ela podia falar como uma heroína, que tinha superado a fúria de uma árvore, ou uma danada escada.

Levei-a em casa, e limpamos juntas toda aquela melequeira de sangue. Por sorte, ela não teve de ficar com a boca toda costurada como eu fiquei quando tinha 5 anos...

Quando fui deixá-la em casa, ouvi de minha ex-cunnhada dizendo: puxa Bette, tu vai embora e não vai olhar os meninos crescerem.

Acho que devo ter sido um pouco arrogante em dizer, mas eu disse a ela a minha verdade: Seria uma honra me lembrar deles na fase mais linda da vida, e que poucos tinham a oportunidade de sair de perto, não esquecer a imagem tão forte deles pequenos, e voltar e olhar eles grandes e prontos para a vida.

Tenho uma visão da coisa: quem acompanha o dia-a-dia, as vezes esquece pequenos momentos e imagens, ora por um erro feito no caminho, ou um acostumar das situaçoes...

E sao assim os relacionamentos, nós vamos convivendo e esquecemos daquele sabor do primeiro beijo, e a traição ou a briga num dia atípico, tira todo o encanto e amor no erro da jornada.

Eu lembro de tudo que passamos, que alguém passou comigo... eu tive a oportunidade de reforçar essa teoria hoje...

E as cicatrizes?

Como elas maltratam na hora, isso é certo!!! Mas, depois, se tornam uma lembrança de o quanto fomos fortes, ou mesmo frágeis...

A minha tatoo está cicatrizando. No primeiro risco do artesão do zing-zing eu disse: não. pare, eu vou embora, eu lhe pago mesmo assim!!! kkkk.

Mas, superei. E agora, esse desenho não é somente um desenho bonito.. mas, uma experiência de dor e superação.

Eu li isso no lixeiro do tatuador, e só la percebi que era verdade:

O sofrimento é passageiro... desistir é para sempre.

A dor minhas lindas, é temporária, desistir dela, é um deixar de avançar de passos importantes.

Bjocas, e olhem fixamente para vossas cicatrizes, sejam elas corpóreas ou na alma, e julguem-se como a mim e minha sobrinha: EITA MULHERES PORRETAS, SIM SENHOR!!!

Bette.
Louca para ficar com alguns arranhões nas costas..rs.