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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

...a última linha de um diário...

Todos os dias uma história contada na terceira pessoa... e comecei a perceber, que a vida daquela mulher que constantemente aparecia "dentro do meu espelho", parecia com um filme ou livro estúpido que só contara para mim. Em todas as páginas do meu livro pessoal, rascunhos, uma bagunça, uma certeza e a mesma protagonista, que apresentava, para além dos olhos sem brilhos, na contra-capa, uma cicatriz no meio da testa. A mesma história se repetia vezes sem conta, deitava-se com os novos corpos e após o momento de gozo, deparava-se com uma consciência da realidade e algumas conclusões. Antes, quando pensava que era para sempre, não havia a necessidade de outro corpo. Óbvio, que numa mente fiel nunca se imaginou tocar outro corpo... Mas pronto, acontece! A primeira cama é terrível, lembro-me da primeira escrita de março, uma sedação entrava em mim e logo após, uma estúpida sensação de infidelidade. Quem se aventura tentar esquecer alguém com novas carícias se dispõe ao fútil prazer da troca e fuga constante. Se há uns tempos as horas de sono de um casamento que se prolongava na sensação doce de que está tudo perfeito, dias e noites não interessavam. Para uma nova solteira, todos os momentos são decifrados pelo relógio que faz questão de pormenorizar a solidão. Uma nova realidade traduz o que a madrugada nos pode trazer, alguns litros de álcool, centenas de fotografias recortadas, um vazio digno da loucura. São novas relações temporárias, até o tempo de perceber que não estamos realmente a nos contar uma história real. Era apenas para ela achar que eu tinha superado, escrito uma página fantástica. Com o passar das folhas, encontravam-se novos capítulos, da alegria tola à insensível escrita e comportamento face aos novos "alguéns". E todos os possíveis amores nem ousaram entrar, não passaram do "amo" de fora para dentro. O coração já não conseguia mais acreditar em palavras bonitas e rimas. O romantismo sumia páginas após página... e qualquer leitor compreenderia que não haveria roteiro para que desse certo. Encontrei pessoas boas, apaixonei-me, mas era mais fácil optar pela falta de vontade de estar envolvida. Medo, só o medo e as eternas comparações. Nenhuma separação é fácil, mas com o tempo aceitarmos as cicatrizes e as horas como parte de nós e do dia. E só então, podemos comprar um novo diário e escrever a última linha antes de fechar um livro de memórias, um livro que só contou que não existiu um feliz para sempre, como nas histórias infantis! Aceitei o presente, um novo livro em branco, para compor a história de quem eu vejo todos os dias antes do café-da-manhã, refletida ao espelho dos meus olhos.