Em lado oposto...

Desci na mesma estação. Subi as mesmas escadas que comumente me levavam a casa. O mesmo frio saindo da superfície e arrepiando minha pele.

Já na superfície, vendedores me chamam atenção para aquele mesmo lado que sempre percorri. Estava distraída, e quase andei 10 metros em direção a minha ex-casa, como o Algusto Curi cita – o processo da psicoadaptação, fazemos tudo pelo costume.

Quem não se acostuma a certas rotinas, sejam boas ou ruins?

Não. Agora eu devo retornar e cruzar o lado oposto da avenida. Descer em ruas curvas, e esquecer de vez aquela reta constante que me levava até minha casa.

Mudei!

Muita coisa mudou, já não sou mais dona de meu próprio quarto, não insisto em coisas alheias, cansei de viver do passado, quero somente o silêncio e viver o que eu quero..

Enquanto isso, andei.. até parar para fazer compras. Eu precisava me sentir mulher de casa, provar da minha própria culinária, e testar minhas sensações diante dessa nova vida.

Nada de pizza e produtos congelados. Eu tinha feito um estágio secreto com a Ana Maria Braga (rsrs) e toda essa gente que coloca receitas ao ponto de ficar pronto o jantar.

Acho que demorei mais para chegar lá “em casa” - como me pediram para eu chamar; Eu tinha o código e a chave. Subi as escadas devagar para ver se encontrava fôlego.

Porta aberta, e eu pensei que iria encontrar alguém, mas, o que eu ouvi foi um barulho do escuro com o da solidão.

Não quis me abater. Bette nunca se abate.. pelo menos nessa fase “oposta”.

Melhorar o ânimo - é isso! Coloquei um samba no DVD, cantei alto e sambei um pouco...Olhei para a garrafa de Wisky em cima da geladeira, mas pensei que eu não precisava de “droga” para ficar feliz...Tinha de vir de mim.

Guardei as coisas, cortei e congelei as carnes, brinquei com a galinha como se ela tivesse viva e fosse o único ser no mundo que pudesse me ouvir e entender. Mas, mesmo assim esfaquei-a e coloquei no fogo...

Durante algum tempo, com o avental e o cabelo presos, me senti uma mulher diferente, não mais menina, e não só mulher. E mesmo que não entendam minha decisão, eu me sinto sim, mais dona de mim e ciente do que quero e principalmente do que não quero...

Alguém bate na porta, e um sorriso bobo me penetra também. Ficamos radiante por nos ver. Quantas voltas tivemos que dar, experimentar. A vida havia dado mais uma chance para eu viver de forma oposta ao que vivia, e se essa sensação permanecer, vou continuar achando que é felicidade.

Saudade? Sim, ela também existe no meu lado oposto. Eu senti falta de uma mulher que me beijava sempre quando chegava em casa, no fechar breve da porta para os vizinhos não olharem.... Quando botei a pipoca no carrinho, pensei nela. Acho que até o cigarro sem muita nicotina eu senti falta... Mas, no lado opostos me recuso a andar no passado.

Bette não quer mais viver de dor, quis aprender a ser feliz! E dessa vez, sem fantasmas, sem pensamentos na hora da transa, sem senhas, sem outras pessoas. Entre o lado oposto de Bette, quero viver só com mais uma pessoa além de mim.

A internet abriu, e eu também vi minha calmaria lá, vestida de frieza, com um narizinho de palhaço congelado pela foto. Esqueci que havia sentimentos nela, e joguei minhas últimas sensações na tela do computador...e, em poucos instantes, percebi que ela estava mais fria ainda.

Pedi desculpas, disse: Tina, és minha minha melhor amiga!
Lamentei um pouco aquela situação e o “poderia ser diferente” deu lugar a um olhar vindo da cadeira e falando algo que não entendi...

A rede caiu... deixemos... eu preciso viver melhor, e não sofrer sempre pelo que fica do lado do oceano, sempre eu lá ou aqui, é sempre pensar no que ficou.

Preciso ser oposta, diferente do que fui...

Reservei meus comentários, e a saudade no lado dos opostos quase é esquecida pelos abraços e carinhos atuais...

“Transito entre dois lados, eu gosto é de opostos”... Adriana Calcanhoto.

Boa noite.

Bette.