Era manhã do dia 17 de Março de 2005, estava numa sala, e a todo instante entravam pessoas. Já não conseguia gravar tantos nomes, fisionomias e informação. Mas, a mulher de maiô azul, shortinho verde minúsculo e um apito pendurado ao pescoço, ficou logo em minha memória. O seu sotaque diferente, a voz alta, e aquele micro-short me fez logo ter uma péssima imagem daquela mulher. Só depois de alguns minutos ao ouvi-la, e acompanhar o seu cabelo pingando ao chão, pude saber que era uma de minhas supervisoras.
Sempre tive uma péssima imagem e preconceito de pessoas que se vestiam como ela. Um de meus outros tantos preconceitos era a homossexualidade...
Uma semana foi passando, e minha função era de observar as aulas, os alunos, os materiais, a profundidade e extensão da piscina, mas não conseguia de parar de olhar para aquela professora que me causava mal-estar.
Em duas semanas, o mal-estar passou para a admiração. O seu trabalho era fantástico! Já estávamos a falar mais e a combinar horários para caronas nas manhãs de terças e quintas e as noites de segunda, quarta e sexta.
Em menos de um mês, minha história com a daquela mulher começara a se cruzar de forma inexplicável. E sempre que ela precisava estava eu lá. Uma pessoa se afogando, uma criança a se ferir grave, um ataque cardíaco...era sempre nós que estávamos a nos socorrer juntas...
Mas, o que verdadeiramente nos uniu, foi o dia 5 de abril de 2005. O trânsito calmo das 6h50 da amanhã se tornou em poucos minutos num amontoado de pessoas que juntavam a ver-nos dentro do carro a subida do acostamento, e ao chão uma senhora que se ardia em dor.
Deve ter sido nesse exato dia em que fizemos tudo juntas, para com aquela senhora, para com o nosso olhar, para com uma mão a outra...
Ao voltar do hospital naquele dia, quando nossos olhares se cruzaram senti que já estávamos ligadas por algo muito grande... foi o nosso primeiro e demorado abraço.
Em meu aniversário, recebi os parabéns e as primeiras mensagens de carinho daquela mulher. Ela se tornou minha amiga pelas intempéries, pela união profissional e principalmente pelo excesso de carinho que havia entre a gente. Parecíamos nos ter conhecido a uma eternidade.
O meu coração contagiava-se com o humor dela. Marcávamos sempre um motivo de chegar e sair antes do trabalho, para ficar um pouco mais juntas.
Não sei ao certo qual foi o dia que percebi que ela estava a olhar tão profundamente aos meus olhos, que parecia ver minha alma. Falávamos de tudo, e com o excesso de álcool logo começamos a falar do que havia entre nós.
Sabia que era uma amizade forte, mas algo no olhar dela além de me atrair dizia que era mais que isso.
No dia 25 de Abril eu já sabia que ela gostava de garotas, apesar de ser casada e manter-se muito discreta. E eu... já não sabia quem eu era.
O mês de Maio foi chegando e as coisas foram também mudando. A minha função de observar as aulas, os alunos, os materiais, a profundidade e extensão da piscina, mudava com as de dar aulas e de observar a profundidade, extensão e movimentos do corpo dela.
O frio na barriga ao vê-la e o toque de sua mão, cada vez mais me despertava outras possibilidades. Já sabíamos o que queríamos, mas o primeiro beijo pedido foi atendido por mim com uma feição de nojo e repulsa.
Em um sábado de Maio, depois da praia, depois de muitos goles, depois de perder a vergonha, depois do preconceito desfeito, depois de não conseguir subir direito a rua, depois de entrar no banheiro masculino, depois de agarrá-la pelo braço, depois de encostá-la na porta, depois de me aproximar a sua face... foi o momento em que beijei-a com força, sabor e desejo...
Esse foi o meu primeiro de muitos beijos que daria com ela...
xxBettexx
Um comentário:
Parabéns meninas, ótimos textos! Acompanharei a partir de agora ;)
Beijos.
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