Para aqueles que acompanharam o início de minha história com mulheres, já devem ter conhecido algum de meus defeitos... preconceito, impulsividade e desejo...
Desejo? Desejo, sim. Desejo pelo novo, por sensações, por conseguir...Não parece que desejo seja algo ruim, mas em meu caso é!
Isso realmente em mim é capaz de me colocar do topo ou ao fundo do poço em um relacionamento.
O desejo de ter algo novo e provocador me foi capaz de renegar meu preconceito.
O desejo de descobrir o amor de uma mulher me fez correr febril na chuva...
O desejo por saber, por viver e provar...foi capaz de findar o meu relacionamento com a minha primeira namorada, minha primeira mulher. A primeira que sempre será a primeira e tanto que inesquecível.
Sei que em minha história não fui melhor nem pior, talvez tenha somente sido eu, uma pessoa que seguiu seus instintos, que pensou depois que agiu. Quando terminar de dizer quem eu fui e como acabou minha história, sei que saberão que a mocinha da história certamente não fui eu, apesar de poder dizer que fui vítima dos acontecimentos e do meu desejo... mas, vivi de tudo um pouco, e ainda penso que se tivesse a mesma história, faria novamente.
E para falar do término vou relembrar dos primeiros acontecimentos com aquela mulher casada e seu marido...
Uma noite de abril me lembro que vi a sua aliança, a minha amiga possuía uma vida com alguém além dos alunos e a minha amizade.
O Fiat uno antigo, com aquela placa desbotada foi o primeiro lugar que uniu mulheres amigas e um marido conhecedor do passado de sua mulher.
Não sabia que eles diziam que eu poderia ser lésbica, só soube disso muito tempo depois, tempo esse que já havia por namorar uma mulher casada.
Namorar uma mulher que tinha uma vida já estruturada ao lado de uma pessoa não foi fácil. Além dos poucos encontros, sujeitei-me vê-la beijar na boca de uma outra pessoa, dividir os momentos de atenção com o marido e por fim, a me aproximar de alguém que eu não tinha nada contra, mas não queria tê-lo próximo.
Era muito desconfortável no começo aquela situação. Mas, como no último relacionamento ela criou total distanciamento da mulher que namorava, inclusive por esconder sua existência como amiga, ter-me por perto era um hálibe de que nada havia mais que a amizade.
Sermos amigas em sua frente, almoçar em sua mesa, aceitar carona... E em um mês, estava eu a passar todas as tardes de sábado na casa deles. Uma conversa engraçada, um filme épico, um meio-cochilo na almofada.
Quando estávamos com ele, por uma espécie de respeito, resolvemos não pensar que nos amávamos e sustentar para nós duas que o sentimento era só amizade. E acho que isso foi a melhor decisão e mais justa.
Justa com o que eles sentiam, justa com ela, mas depois fui que não seria justo com os três...
Quando os dez dias de regresso chegavam, a saudade era matada nas pequenas e grandes oportunidades. E cada vez mais estava íntima daquela dupla engraçada.
Em uma de suas viagens liguei para a casa dela, mas quem atendeu foi o marido. Ela não estava lá, não havia chegado. Estávamos os dois com saudade dela, e o telefonema demorou mais do que o esperado, pois falarmos dela parecia que ela ficava mais próxima.
Lembro-me que uma tarde de sábado, quando o papo de professores apaixonados se estendeu entre eu e ele, ela olhou-me nos olhos e ao ficarmos sozinhas ouvi dela um pedido um tanto sem compreender, mas foi feito: “faz um favor, não apareça aqui quando eu não estiver em casa...”
Acho que um ciúme chegou nela, um radar feminino percebeu que aquelas conversas divertidas poderiam terminar em algo.
Fiquei realmente chateada com suas palavras, e prometi que nunca aconteceria.
Mas, já tínhamos falado uma vez ao telefone, e logo vieram dois, três, e alguns outros telefonemas em dias que a falta daquela mulher fazia a noite ficar interminável.
Algum tempo passou, vivi com ela momentos intensos depois que voltamos de nossa viagem inesquecível, ficamos mais íntimas, mais apaixonadas, e eu não conseguia mais ficar sem ela.
Lembro-me que pedia para que ela dissesse que ia me amar para o resto da vida... E o que ouvia era de que a vida devia ser vivida aqui e agora, e que eu ainda iria viver outras histórias com outras mulheres.
Não suportava ouvir que ela não tinha planos comigo, e que ainda por cima dizia que eu ia ter outra um dia. “Não, jamais!!” Era o que dizia a ela.
Nessa época lembro-me que me julgava incapaz de me deitar com outra mulher. Achava mesmo que não era lésbica, pois até então não sentia desejos por outras mulheres.
Ah, isso até surgir aquela loira de olhos azuis. E um sentimento estranho começou a me fazer desejar aquela mulher que entrava sempre as 19hs na academia. Era a feminilidade em seu corpo e um ar sensual em si. Mas, mesmo assim dizia a ela, não gosto de mulheres! E foi a primeira vez que ela me viu olhar diferente para outra mulher.
No final de Julho, novamente chegaram os dez dias sem ela. E para completar minha saudade, fiquei sabendo que o tio havia falecido, e ela teria mais uma semana distante de mim.
O telefone na minha mão surgiu como uma forma de ouvir algo que me ligava a ela. Falei com seu marido, e no outro dia estávamos a correr na praia.
Era uma amizade. Lembro-me que até o final da corrida eu tinha a certeza de que ele me via como amiga da mulher dele, e talvez tivesse até afastado a dúvida que pairava sobre o relacionamento entre eu e ela.
Mas, veio a água. Se soubesse que o olhar dele iria chegar aos meus lábios, teria evitado a água? Não, certamente não. Sei que apesar de me sentir constrangida tomaria sim a água de côco. Eu vi ela naquele olhar.
Aceitei a carona para banhar-me em sua casa, com a certeza de que a sua funcionária estava lá. Daria-me a garantia de que eu estava tomando a segurança dos possíveis acontecimentos. - Eu preciso ser guiada pelo correto, para não dar lugar a minha imaginação.
Cheguei a casa deles. E ela não estava lá. O chão na sala estava vazio sem os dois corpos femininos a se tocarem, não estava a beijá-la.
Em meio de outro copo com água, ouvi dele a pergunta: não gostaria de uma massagem? Disse que não. Mas ele disse-me que era uma massagem diferente. Realmente não soube o que seria o diferente, e deixei-o dizer como seria.
Tarde demais! Ele pegou meus pés e até perceber que a massagem seria com a sua boca, já estava eu a não saber o que fazer, pois havia ele tocado sua língua em meus pés.
Já estava a saber que aquilo não era amizade. E nesse exato momento a dúvida me deixou com outro sentimento, o do desejo de conhecer algo novo, por deixar sentir o meu corpo responder aquela forma estranha e certeira de carinho.
Distanciei-me, sei que havia em mim um lado que me dizia para não deixar, para sair, para não fazer já que amava ela... mas ele subiu, beijou meu pescoço e deu-me um beijo na boca.
Por que não ouvi-la? - Não venha aqui em casa quando não estiver!
Por que deixei querer sentir onde tudo poderia acabar? Mas não estava preparada, para o depois... Como sempre. Geralmente muito dos mortais que são mais inteligentes que eu, não fazem as coisas, muitas vezes não por que não tem vontade, mas sim, porque sabem que as conseqüências são drásticas.
Corri para o trabalho, como se fosse tudo se apagar de minha memória.
Mas, numa atitude imatura, escrevi um e-mail a ela. Não sei o que se passou em minha cabeça, mas a palavras sem nexo deixou-a intensa no outro Estado.
Em menos de uma tarde ela já havia falado com ele, e falado comigo. Mas, como fui idiota, ainda cometi o erro de dizer que ele tentou algo comigo. Claro que ela não iria acreditar em mim.
Antes, ele já havia consertado as coisas. Mas, mesmo assim. Eu deveria saber que eu era apenas uma aventura, e o casamento estaria sempre a ser preservado.
Voltei para casa, o e-mail dela já estava lá. Era um pedido grosso e forte de que saísse da vida dos dois.
Engoli a seco. E ela nem queria saber o que havia acontecido. Em dois dias ele me ligou, perguntou por que havia feito aquilo. Eu já estava totalmente confusa, e fiquei a espera dela.
Ela chegou, e não me atendeu, não respondeu e-mail, não gritou nem riu comigo.
Fiquei com o sabor do último beijo com ela, dado na parede da sala de jantar, não sabia que seria o último beijo seguro, deliciado...
Mas, não consegui ficar distante. Fui a uma festa, e nada bebi, queria está lúcida o suficiente para dizer o que sentia. Mas, entendam-me bem, deveria tomar coragem de um bêbado, ou pelo menos o fingimento de estar como um bebum, para dizer o que sentia.
Então, próximo a casa dela comprei uma cerveja. E acho que em minha vida, foi a única cerveja que desperdicei sem tomar. Ora, eu joguei em meus braços, em minha blusa, em meu pescoço, até ficar com cheiro forte de cerveja. Acho que as vezes perco a noção das coisas, e faço alguns planos em que sigo sem temer no que vai dar.
Meu plano era chegar a ela, chorar e dizer que amava-a. Eu realmente amava-a, mas errei com ela. E certamente gostaria de chorar, mas eu ainda estava dopada com a situação, e tudo que queria era voltar a ser como antes. E eu nem amava ele, só queria senti-la.
Depois de várias vezes a tocar a campainha da casa dela, ela desceu. Ela nem acreditava que eu teria a cara de pau de ir lá.
Mas, fui.. Eu queria consertar as coisas, e para isso sei que corro o quanto for. Deveria eu pensar antes de fazer, mas essa é Bette!
Finalmente falei com ela, fiz até chiado de bêbada, e disse que a amava. Mas, ela não quis ouvir, nada, nada...
Pedi para subir e usar o banheiro, ela relutou, pois lá estaria o marido no quarto ao lado. Eu agora vendo minha figura nem acredito como tive a coragem de ir lá na casa dela.
Bem, mas, na volta, ela não quis me ouvir, só pediu para eu sair da vida dela. E numa atitude desesperada, quebrei um cordão que tinha tal qual ela. Esse cordão que usávamos, tinha sido presente de pessoas diferentes, e pela coincidência, dizia-nos que era uma união do destino.
Os pedaços das 7 pequenas alianças ficaram pelo chão das escadas do apartamento dela. Chovia forte, e não acreditava que nem um táxi ela ia me chamar, já que estava sem bateria, as quase uma da madrugada, sem transporte para chegar a minha casa. Acho hoje que era deveria mesmo é ter me ter gritado e transportado toda sua raiva em mim, mas ficou calada, e eu sei que isso é a pior coisa que pode acontecer, o silêncio!
Dia 1 de agosto de 2005, estava eu a dar aula, e vejo-a linda a entrar na minha sala. Cumprimentou como sempre os alunos. E como sempre fiquei com meu coração na mão.
Ela andou em direção a sala de professores, e ficou a minha espera. Aquela sala que avistei-a pela primeira vez.
Cheguei a ela, e a frase que ela citou foi somente essa: foi bom, mas eu não quero mais, nem quero saber o que aconteceu, não quero te ouvir, sai de minha vida, e adeus!
Estava ali a pedir um último abraço, mas ela se foi.
Depois de 1 mês sem ela, não conseguia mais suportar aquilo tudo. E resolvi ligar para o seu marido. Aceitei sair. E confesso que só queria sentir a presença dela.
Um encontro a base de muitas revelações sobre a vida dela contada pelo marido. E eu sempre no silêncio.
Acho que a única coisa justa que fiz com ela, foi de sustentar o meu silêncio. Prometi que negaria para todo o sempre a ele, e foi o que fiz. Era o mínimo que fazia a ela, não contar da nossa história.
Na noite em que encontrei-o, tive de tomar muitas cervejas, elas entravam em meu corpo para ter coragem e para fingir que era ela que estava ali.
Estava meio doentia, já que o riso dele, algumas palavras e o beijo me pareciam como se saíssem da boca dela, eu estive com ele.
Eu tenho a certeza de que quando pessoas convivem com outras acabam se parecendo, sorrindo e nos tocando de forma igual.
E infelizmente foi assim que comprovei a tese de que o beijo dele o tocar em meu corpo era igual.
Ficamos uma noite a receber um o corpo do outro. Era uma união sem sentimentos. Nunca soube o que passava pela cabeça dele, mas o fato foi que tivemos 4 encontros.
As vezes eu a culpava por ter me feito descobrir o sentimento com uma mulher, como se fosse uma doença viver nesse mundo. E eu sentia-me possuída por tantos sentimentos. Raiva, saudade e desejo...
Cheguei ao meu limite. O limite em que você já perdeu o controle das coisas, e só resta agora pedir para ficar na cama deles, e meu pensamento nela. Aquela cama já havia me encontrado duas vezes, com pessoas que ela via a noite para também realizar aquele ritual. Mas, aquilo foi o fim. Tive nojo de mim, e no barulho da cama, fui para casa em prantos. Eu a amava. Queria tanto que ela soubesse disse. Perdi o controle da situação, foi um beijo que se transformou em uma bola de neve. Eu sei que ela sofreu, sei que ela não espera isso de mim, nem eu.
Dia 20 de setembro recebi uma ligação dela. Dizia que sentia minha falta. Depois disso desligou. Tentei ligar novamente, mas tudo em vão.
Dia 23 de novembro fui a casa dela, ensaiei uma música, me lembro que havia um segundo plano de tocar algo de amizade se tivesse alguém por perto.
Ela estava com aquele top branco, já tinha engordado desde que a vi pela última vez. Estava ela a tomar medicamentos para depressão. Não acreditei ao saber que tinha levado àquela situação.
Sentei perto dela, levantei e abracei-a forte. Ela pediu para eu sair, e antes só me perguntou por que eu fiz aquilo com ela. Calei-a beijando sua orelha, depois seu rosto, até ela não suportar mais e me beijar forte. Ela se entregou a mim por alguns minutos, beijamos como se tivéssemos mais que 4 meses sem fazer isso. E quando a consciência voltou, ela me mandou ir embora e prometou que nunca mais iria acontecer isso.
Dia 7 de dezembro estávamos em uma confraternização. Estava quase certa de que ela não iria por minha causa. Para me torturar ela deu em cima de minha amiga, pediu-a para ir com ela a festa.
Sentamos distante, e logo estávamos uma perto da outra. O desejo falava mais. Ela queria se segurar e no fundo tentava ter ódio de mim.
No jogo da verdade falei ao ouvido dela, passei minha língua em seu ouvido disfarçando com as mãos. Segui-a até o banheiro e empurrei-a contra a parede. Era como nosso primeiro beijo, dado em um banheiro, perto da porta, e ali foi nosso último beijo. Desse beijo ela me empurrou e pediu que me afastasse dela.
Depois desse dia fiquei sabendo que ela estava grávida. Não queria vê-la assim.
Dia 16 de maio fui ao meu antigo trabalho, encontrei-a lá. Foi a última imagem que tenho dela, estava com uma barriga enorme. Eu já não tinha coragem de desejá-la como mulher com aquela criança na barriga, mas fiquei estasiada de vê-la, linda, natural e cheia de brilho.
Depois de algum tempo sem a atenção dela vi-a a se aproximar de mim. Pegou em minha mão e colocou na barriga dela. Acho que foi uma forma que tivemos de nos unir e relembrar do carinho do passado.
Fiquei parada enquanto ouvia as suas palavras a serem ditas com o seu nariz entupido, linda como sempre.
Fui para minha casa, e nunca mais a vi.
Em um dia de agosto ela teve sua filha. É como se tivesse ali com ela, pois essa noite passei acordada.
Em abril de 2007 resolvi mandar um e-mail. Disse que agradecia por tudo, e que ela estava certa. Já tinha encontrado um novo amor, uma amiga que me deu um sentimento lindo e novo, e que só era possível por que ela me tinha feito conhecedora daquele sentimento por mulheres.
Ela me adicionou no MSN. Falamos algumas poucas vezes sempre eu com meu coração acelerado e mãos frias.
Um certo dia recebi uma mensagem que dizia “por favor me responda”.
Ela havia deixado aquele e-mail que tinha mandado salvo em seu computador. Ele leu. Ele tentou terminar com tudo. Afinal, nenhum sabia de fato o que cada um tinha feito comigo.
E ela se desesperou e me pediu que dissesse a verdade.
Tudo que um dia tentei dizer a ela, ela me perguntava naquele instante. Sem poder eu pedir perdão a sua frente. Só queria ajudá-la como deveria, e em 20 linhas contei tudo.
Ao término de tudo aquilo, ela me disse palavras que já não quero mais lembrar.
Foi então, que depois de já não a vê-la, foi a última vez que também tive falando com ela.
Sofri muito, chorei, fiquei derrotada. Nesse dia veio o arrependimento por tudo que fiz, pelo meu desejo do novo.
Liguei para meu novo amor, dirigi até um quarto e lá chorei com ela, depois fizemos amor. Ai é uma nova história... o segundo e sólido amor de Bette!
Nenhum comentário:
Postar um comentário