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sábado, 17 de maio de 2014


A DOR QUE DÓI MAIS (Martha Medeiros).

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
http://pensador.uol.com.br/autor/martha_medeiros/

segunda-feira, 12 de maio de 2014

De repente..um poema improvisado sobre o amor é doença..ou um fármaco temporário!

De repente, ao andar por aí, como num cair de uma escada rolante, ou num bar qualquer da praia, descobre-se: o amor..e..doente ficamos.

No primeiro instante, na primeira queda, no primeiro olhar, na primeira dança no sofá, falling in love, e aqui estamos, pro resto da vida, crónicos doentes!

De repente, a queda, caímos no agridoce fazer do amor, deixar muletas, amor e doença, completamo-nos no sexo, nas horas de viola, no doce prazer de não fazer nada e tudo ao mesmo tempo.

Na cama, não se nota a diferença, falamos a mesma língua, da química! Independente do gosto, da música. A semelhança encontra-se nos movimentos lentos, doces e dóceis.. rápidos, ácidos e pornográficos.

De repente, vem o remédio, a cura, placebo, para uma vida sem amor, menina doce e doença.

De repente, não nos damos conta, ingere 9 cápsulas, dorme em paz, suave toque de conforto. As assimetrias das articulações inflamadas perdem voz em meio ao desejo. É o amor, uma doença presente, vezes calma, outras, louca!

Num dia, ela diz - te ama, no outro, que tem que procurar outra receita. Aí, o que se faz? Aluga-se um quarto, deitamos sós, como um doente que toma o soro numa pequena maca de um hospital. Daí, o teu corpo sente falta de algo... e o outro corpo também, anémicas, e vocês se encontram novamente, como dor de cabeça e analgésico, duas fórmulas dependentes.

De repente, a doença desperta novamente, um amor ausente, quer-se mais, passado, ela te quer mais que tudo, logo depois, ela, enlouquece, sendo capaz de desta, de modo "indócil", empurrar-te na cama. E sai...

Naquela hora, o teu corpo parece um Mc massado, envolto num saco de papel, pisado, com tal fúria que desconhecemos; de quem tantas vezes deitou ao teu lado, com prazer e carinho.

De repente, ela precisa fumar um cigarro que lhe falta, droga que acalma. E o teu corpo decide apanhar sol, todo o sol que é preciso, distante, num país tropical. Os dois, corpo e doença, cegam-se, só conseguem ver paixão, e logo surge uma nova receita, saudade, corpo ausente, dependência.

Naquele dia, o amor escolhe, a doença escolhe, um novo remédio, algo mais forte e potente. As nove cápsulas, o namoro, tornam-se injeção, o compromisso.

De repente, dois anos, a doença e o amor casam-se.

No mesmo dia, a nova receita se torna cura. Saem do aeroporto, sala de formação para aplicar o novo remédio, e logo, ao espelho do retrovisor do carro azul, são vistas aos risos, gozando.

De repente, a seguir ao aeroporto, a receita de papel timbrado, a saída mais cedo para me dar a mão, consegui juntar as letras, em meio ao momento de prazer: Na saúde e na doença, vai ser pra sempre! Leu assim o coração analfabeto, dependente.

Num determinado dia, o remédio rejeita o novo paciente, cinco da manhã são todos os dias! Acordava, sem dormir, via, atrás das olheiras, o nome: rejeição!!!

De repente, a injeção não te quer mais, recusa entrar nos teus poros, dar-te prazer.

Naquele mesmo dia, um outro voo, eu não seguro mais a mão dela, ela não me toca mais, virei amiga da doença, o amor esconde-se, enlouqueço! Troco o ortopedista, das muletas, por outra especialidade, a psiquiatria.

De repente, sobe a tensão, já não é mais tesão!

No regresso, sento na grama, relva daninha, respeito toda falta de amor, faço contas, o balanço global, dou então contas à escrava enfermeira. E ela, procura, tão facilmente, uma nova paciente; Morada conhecida, olhares que já se arderam e reacenderam. Alívio ela sente, eu, dor, intenso.

De repente, experimento a fase da CortizAna. Fígado, pele, face..tudo perde o brilho. No espelho, novamente, retrato branco e preto. Na cama, vazia, pleno Natal. Último dia de sexo, sem amor, confirma ela, apesar do gozo. Recebo a dor como presente, grande, espaçoso, entra em todo o corpo, manda embora a esperança; ela não me responde mais... células morrem, sangra garganta, palpita incessantemente o coração, surpresa triste.

Novamente, o soro, entrou na veia, saiu pelos olhos. Um enfermeiro formado pergunta: quem te acompanha, digo, mentalmente; o número dela, o nome dela..mas a garganta ainda esta fechada, felizmente, ainda calada..logo depois, quando a penicilina abre a voz, silencia, mente, corpo...sonolência beneficente, não corre o risco de chamar por ela, na cama com outra, receita diz ela, a mulher que para o resto da minha vida, que faço plano, que muda, novos e velhos movimentos de amor. Palavras que matam!

De repente, decepção é tratada com paracetamol, paixão fugaz, não dura um mês, fórmula que não consigo decifrar, entristeço, tenho mais saudade do passado, sonho com ela, todos os dias, gravo minhas palavras no telefone, são tantas coisas que queria lhe dizer!

De repente, tanta dor, cura que não volta mais, desespero, junto 9 capsulas vezes 4, faço contas, 36 semanas de dor, sem ela, e em alguns segundos, pensou em desligar a alma, o coração, o corpo, a máquina.

No hoje, ve-se só novamente, superou mais algumas quedas, colocou ela mesma o joelho no lugar, tratou das feridas, do murro no estômago e na face, visitou sozinha alguns bares na praia, apanhou novamente sol...tudo agora sem ela, mas aqui dentro, velha caixa fechada, fria, que lá no íntimo esconde mistura, receita, composição de paixão, amor, saudade e dor.