Depois que caí das escadas entrei no hospital e vi uma mulher segurando minha mão quase aos prantos.
Era a primeira vez que ia a um hospital e me sentia tão amada quanto quando tive com Tina.
Tina era passado, estranho falar agora assim, meio que se tivésse a ler o Boletim de Óbito de um paciente. Ela se foi... se foi...lamento senhora...ela se foi.
- Não é hora para pensar nisso, pensei!!!
Era outra mulher que me dizia para eu ficar calma: vai dar tudo certo, amor!!! - Vai "correr tudo bem".
Foi como uma amiga, como uma companheira, como uma irmã íntima. Uma mulher que me sentia dentro e que me queria com meus defeitos.
Sorri meio sem graça até ser levada para outro corredor.
Horas passaram, e a enfermeira disse que ela não podia ficar ali plantada. Nada de preconceito, nada de nada... ela só não tinha lugar para ficar naquela salinha de urgência.
A primeira noite sem dizer "boa noite - bom dia" ao lado esquerdo da cama. A primeira noite depois de tudo junto. Alguém que eu conheci, namorei, noivei e casei tudo no primeiro mês. E depois de 244 noites juntas, já não me via fazer isso sem ela.
Nunca mais tinha visto a solidão, era ela que me ganhava todas as noites de prazer e de união.
Existem coisas unúteis na nossa vida, uma delas eu diria: cair de uma escada rolante dois dias antes de apresentar um mestrado seria uma delas.
Mas, acho que não... Não foi inútil a sensação avassaladora de não dizer "bom dia-boa noite" para ela. Acho que também foi útil ficar alguns dias de baixa e ver sem estress da merda do trabalho o quanto ela é linda ao chegar do trabalho, o quanto eu a amo, o quanto tem alguém que se importa por mim.
E agora, bomdia-boanoite é dito com um sorriso gostoso de uma "brasileira de canadianas que ama uma portuguesa" e já não quer mais andar pelo oceano.